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Paralisação das atividades da RUMO na base de operações de Ourinhos provoca reações em todos os setores da sociedade 6bo

Publicado em 21 jan 2024 - 12:03:57

           

Desde o último dia 15 de janeiro, o trecho Ourinhos x Londrina (PR) se soma ao restante da malha ferroviária do Sudoeste Paulista que está com as atividades suspensas indefinidamente; segundo a concessionária, motivos econômicos levaram a essa decisão.

 

Alexandre Mansinho

 

A Rumo Logística, uma das principais concessionárias de transporte ferroviário do país, anunciou a paralisação das operações no Ramal São Paulo-Paraná, que conecta as cidades de Ourinhos a Londrina, percorrendo diversos municípios do Norte Pioneiro.

A decisão foi efetivada no último dia 15 de janeiro e pôs fim a décadas de história e de desenvolvimento econômico para a região. O Negocião Digital foi à base de operações no dia em que a empresa pôs em prática a desativação e conversou com funcionários e prestadores de serviços: o clima era de tristeza.

 

Último trem saiu de Ourinhos às 8h40 da segunda-feira, 15 de janeiro de 2023 3tl6y

 

Segundo informações da própria RUMO, por meio de nota, os funcionários da concessionária foram informados na semana ada sobre a medida, sendo oferecidas opções de serem remanejados para outros municípios ou desligados da empresa.

E que o processo de transição será realizado da forma adequada, oferecendo e e benefícios aos colaboradores. A empresa reforçou que a prioridade é que o processo ocorra de maneira respeitosa com todos os envolvidos.

 

MOTIVO PRINCIPAL – A Rumo Logística alega que a decisão foi motivada pela ausência de demanda prevista para o ramal em 2024, o que levou a concessionária a interromper as operações por tempo indeterminado. No entanto, há uma possibilidade de inserção do trecho em programas de incentivo do governo federal para a revitalização dos ramais ferroviários.

Esses planos de revitalização, no entanto, não têm datas para serem implementados e, pelo que tudo indica, até lá toda a malha férrea do Norte Pioneiro Paranaense ficará abandonada, assim como já se encontra o trecho sudoeste da Estrada de Ferro Sorocabana, também de istração da RUMO, que já havia sido desativada meses antes.

O Ramal São Paulo-Paraná, com uma extensão total de 217 quilômetros, partia de Ourinhos e cruzava localidades como Jacarezinho, Cambará, Andirá, Bandeirantes, Cornélio Procópio e outras, até alcançar Londrina. A desativação do ramal gerou diversas críticas, especialmente por parte de políticos, lideranças locais e do sindicato dos ferroviários, que denunciaram a decisão da concessionária.

 

Essa malha ferroviária antes era explorada pela ALL Logística 275m63

 

Apesar da desativação deste último trecho de transporte ferroviário na região, a Rumo Logística expressou sua intenção de renovar a concessão junto ao governo federal para a gestão da malha ferroviária no Sul do país, contrato que expira em 2027.

Com o encerramento das operações no Ramal São Paulo-Paraná, o Norte Pioneiro perde definitivamente a circulação de trens entre seus 25 municípios, uma vez que este era o último trecho ferroviário ainda em atividade na região. O Ramal do Rio de Peixe, que ligava Wenceslau Braz a Figueira, foi desativado nos anos 1960, e o Ramal do Paranapanema, principal linha ferroviária da região, que conectava Ourinhos a Jaguariaíva, foi desativado no início dos anos 2000.

 

DEPUTADOS PARANAENSES SE MANIFESTAM — Os deputados Luiz Cláudio Romanelli e Tercílio Turini, ambos do PSD, apresentaram um requerimento nesta quarta-feira à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), exigindo esclarecimentos sobre a desativação. Segundo os parlamentares, “a paralisação da linha férrea de 217 quilômetros entre Londrina e Ourinhos (SP) foi abruptamente interrompida”.

No requerimento, Romanelli classificou a justificativa da concessionária como “um absurdo e um verdadeiro retrocesso”, apontando para a importância histórica e econômica da ferrovia São Paulo-Paraná, que tem quase um século de existência.

O parlamentar argumentou que o transporte ferroviário é uma opção financeiramente viável e ambientalmente sustentável, destacando que a suspensão do serviço vai de encontro aos princípios da economia verde, a que mais cresce no mundo.

Além de acionar a ANTT, os deputados informaram, por meio de suas assessorias de imprensa, que estão enviando ofícios à direção da Rumo, ao Ministério dos Transportes e ao Tribunal de Contas da União (TCU), buscando mais informações sobre os motivos por trás da suspensão das operações.

Romanelli afirmou que a medida afeta diretamente o desenvolvimento do Norte Pioneiro, citando o exemplo de Cornélio Procópio, que se estabeleceu às margens do km 125 da ferrovia.

Via assessoria, o deputado Tercílio Turini destacou que a decisão da Rumo vai na contramão dos esforços para fortalecer o desenvolvimento da região, especialmente num momento em que os municípios buscam mais infraestrutura e logística para atrair investimentos. Turini enfatizou a necessidade de união entre lideranças políticas e do setor produtivo para buscar alternativas que revertam a decisão da concessionária.

 

SINDICATO DOS FERROVIÁRIOS — O Sindicato dos Ferroviários também se manifestou, acusando a Rumo de desativar trechos produtivos em diversas regiões do país, prejudicando o modal ferroviário e promovendo práticas questionáveis, como o comércio clandestino de trilhos.

 

José Claudinei Messias, presidente do Sindicato dos Ferroviários em Ourinhos 2p3f1j

 

A entidade sindical alega que a concessionária não cumpre adequadamente os contratos de concessão, deixando de investir na manutenção e modernização dos trechos, resultando em tarifas elevadas que inviabilizam o transporte ferroviário.

José Claudinei Messias, presidente da instituição, afirmou ao Negocião Digital que as decisões da RUMO são contrárias ao Novo PAC, programa de obras do governo federal, que prioriza investimentos nas ferrovias, reconhecendo sua importância para o desenvolvimento socioeconômico. “a decisão ocorre na mesma semana em que o Governo Federal anuncia investimentos de R$ 80 bilhões e concessões para impulsionar o transporte ferroviário no país, nós, do sindicato, acreditamos que o que está havendo é uma injustiça e uma visível quebra de contrato”, afirmou.

 

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Ainda segundo Messias, a empresa alega que a falta de demanda comercial para o transporte viabilizado em 2024 motivou a decisão. O ramal Ourinhos-Londrina possui uma extensão de 217 km e desempenha um papel fundamental no transporte de cargas, incluindo combustíveis, fertilizantes e grãos.

A empresa justificou a medida afirmando que, após tratativas comerciais com clientes, não houve demanda para o serviço de transporte em 2024. Messias diz que “a decisão afeta cerca de 50 trabalhadores que atuam em Ourinhos (SP) e em algumas cidades do Paraná, incluindo Cambará-Cornélio Procópio e Jataizinho no trecho até Londrina (…) acreditamos que esse “sucateamento” é proposital pois a houve um aumento abusivo de 65% nos valores dos fretes do ramal”.

 

A estrada de ferro foi a grande mola propulsora do desenvolvimento em nossa região e no Brasil inteiro 225m2i

 

PALAVRA DO ESPECIALISTA — Professor universitário e especialista em economia, Sinival Pitaguari se manifestou por meio das redes sociais sobre a desativação. Segundo ele, a paralisação pode fazer com que empresas estabelecidas ao longo do trajeto migrem para outras regiões, assim como pode levar ao aumento no preço de produtos, já que o transporte rodoviário é mais caro e poluente do que o ferroviário.

Pitaguari explica que o transporte ferroviário é o segundo mais barato, ficando atrás apenas do marítimo. Além de ser financeiramente mais viável, também é menos poluente do que outros modais de transporte, como o rodoviário.

 

Extensa malha ferroviária da Estrada de Ferro Sorocabana, hoje praticamente quase toda inutilizada 1ld5q

 

Entretanto, apesar dos benefícios, ele reforça que o Brasil é um dos poucos países que dão preferência ao transporte rodoviário do que o por ferrovias, tanto para a locomoção de cargas quanto de pessoas: “o transporte rodoviário deve ser utilizado apenas para trajetos curtos ou de ligação para outros modais, enquanto que o ferroviário deve ser a opção para longas distâncias devido ao fator econômico e poluente”, afirma Sinival.

Por fim, Pitaguari destaca que a privatização das rodovias e ferrovias no Brasil contribui para o atual cenário, sugerindo que, em vez de privatizar infraestruturas já existentes, o governo deveria ter incentivado a construção de novas ferrovias e estradas.

Ele enfatiza que a desativação do ramal ferroviário vai na contramão das práticas observadas internacionalmente, e os impactos sobre o desenvolvimento regional são difíceis de calcular, mas podem ser múltiplos e significativos.

 

O QUE DISSE LUCAS POCAY – o atual prefeito de Ourinhos classificou como “absurda e unilateral” a decisão da RUMO. Com exclusividade para o Negocião Digital ele manifestou: “Absurda a decisão da Rumo Logística! É uma mostra de incompetência total e um desrespeito ao próprio contrato de concessão. Em todo o mundo, o transporte ferroviário é sinônimo de progresso e eficiência, mas aqui, a Rumo escolhe ignorar sua responsabilidade, enquanto nossas estradas estão sobrecarregadas de cargas que deveriam ser transportadas por trilhos (…) a suspensão das operações ferroviárias pela Rumo Logística vai na contramão das políticas públicas dos governos. Iremos trabalhar contra essa medida. Estou mobilizando um esforço conjunto com o sindicato e os níveis governamentais para garantir que a voz de Ourinhos seja ouvida e que uma solução justa e benéfica seja alcançada”.

 

Prefeito de Ourinhos Lucas Pocay 446h2n

 

ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESARIAL EM OURINHOS  — Robson Luís Martuchi, presidente da ACE – Associação Comercial e Empresarial de Ourinhos, disse à reportagem, que os prejuízos para a região e para o município de Ourinhos são certos, mas ainda é cedo para ter ideia do tamanho do problema: “sempre quando há uma descontinuidade de uma atividade econômica, todos os envolvidos acabam perdendo – nesse caso específico a arrecadação por meio de impostos e verbas de fomento vão atingir todos de forma direta (…) de imediato nós já temos os empregos perdidos, os trabalhadores transferidos e, junto com eles, suas famílias”.

 

Robson Martuchi presidente da ACE 4l3h2p

 

OUTRO LADO – Procuramos empresas petrolíferas e enviamos novos questionamentos à RUMO Logística, mas, em ambos os casos, até o fechamento desta edição nenhuma resposta havia sido enviada.

 

 

 

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